Os juízos a posteriori

Henrido
5 min readOct 27, 2019

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Este é um escrito de continuação. Muito do que será discutido aqui, terá como base no meu escrito anterior. Portanto, para melhor entendimento, peço que retorne duas casas e leia meu escrito sobre os juízos a priori.

A priori, a experiência é um requisito necessário para validar um conhecimento do mundo real. Em outras palavras: é universal e necessário que haja a experiência para que um determinado conhecimento seja validado. Voltando a referenciar o meu escrito anterior, quando definimos que indivíduos agem propositalmente para atingir um fimjuízo sintético a priori — , nós usamos como o exemplo a própria tentativa de negar a proposição e o cenário hipotético de um indivíduo indo comprar um sorvete — ambos são ações propositais para atingir um determinado fim. Para fins de clareza, vamos usar o exemplo do indivíduo indo comprar um sorvete e, assim, traçar uma linha entre o a priori e o a posteriori.

Quando um indivíduo sai de sua casa para ir tomar um sorvete este fato é repleto de sensações e sem nenhuma universalidade. Caso removêssemos todos os elementos da empiria, nos restaria apenas os juízos passíveis da sensibilidade: o indivíduo agiu para atingir um fim mais satisfatório. Percebam, de forma alguma um fenômeno empírico — a posteriori — anula um juízo a priori. De forma alguma, um conhecimento obtido e originado na experiência, anula um conhecimento com origem prévia a ela.

Das formas de se obter conhecimento: o juízo a posteriori

O juízo, conhecimento, é toda relação entre o sujeito e predicado. Tão logo, toda proposição que contém um sujeito e um predicado, é determinado como um juízo. Este juízo poderá adicionar algo não presente ao sujeito — juízo sintético — ou algo já contigo no sujeito — juízo analítico. Por acrescentar algo ao sujeito, podemos dizer que os juízos sintéticos são os que nos geram conhecimento, ao contrário dos juízos analíticos. Há conhecimentos que, sim, surgem da experiência, mas há, também, conhecimentos que não dependem, exclusivamente, dela. O juízo a posteriori é o caso em que há dependência da experiência e das impressões dos sentidos. Devemos notar que não existe um juízo analítico a posteriori, pois, como é possível deduzir um conceito já contido no sujeito que só surgirá da experiência?

Percebam que os juízos a posteriori não são dotados de universalidade e necessariedade, isto justifica a presunção de que não há juízos analíticos a posteriori. Se o conceito já está contido no sujeito, é necessário que seja desta forma em todo momento — necessariedade e universalidade são características dos juízos a priori.

O juízo a posteriori é contingente, portanto. Gera conhecimento que pertence a possibilidade. É particular, valido para um fenômeno específico. É empírico, pois é passível de validação para atestar a veracidade de uma informação, sendo necessário a percepção para a validação.

Para exemplificar o que foi defendido até aqui, sabemos que, antes mesmo de eu submeter a qualquer tipo de teste, é universal e necessário que um triângulo totalmente vermelho tenha três lado — ele será verdadeiro antes da experiência e a experiência o validará como verdadeiro — , mas não universal e necessário que o triângulo seja totalmente vermelho. Só podemos admitir isto, ao observar que o triangulo é vermelho. Veja, neste exemplo há um juízo analítico a priori ao mesmo tempo que adicionou-se um conceito não presente no triângulo: a cor vermelha.

Não podemos admitir que todo triângulo seja vermelho, pois há caráter de sensação — proveniente do mundo empírico — no triângulo vermelho. E o triângulo é, de fato, vermelho — conceito pela qual só obtemos após a experiência. Podemos definir que o a priori da experiência é quem valida o conhecimento, ao mesmo tempo que certos conhecimentos podem surgir dele

Portanto, faz-se necessário notar que algo novo foi adicionado ao sujeito triângulo. Não estava contido nele o fato de que é vermelho. Podemos classificar o conceito “vermelho” como um juízo sintético e como se originou da experiência e, portanto, não tem caráter de universalidade, ele será um juízo a posteriori. Temos, então, um exemplo de juízo sintético a posteriori.

O arquétipo empírico

A sensação é a impressão que temos um de um determinado objeto e da representação deste para com nosso intelecto. É enquanto somos afetado pelo objeto que emerge a capacidade de criar representações do objeto. Quando, através das intuições sensíveis, conhecemos um determinado objeto, temos a representação do fenômeno.

A faculdade só nos é percebida pelas formas a priori do tempo e espaço, e é natural que seja assim. Logo, antes que possamos pensarque é gerar um determinado entendimento sobre um conceitonuma maçã, esta deve ser recebida por nossa sensibilidademeio pelo qual o objeto é dado pela intuiçãono juízo puro do temposentido interno, com forma temporal e espaçosentido externo, com forma espacial.

Para ficar claro, imagine, por exemplo, uma maçã em uma sala de estar qualquer. Mentalmente, tente retirar esta maçã da sala de estar. Tu perceberás que há um espaço vazio. Agora tente fazer o contrário, em vez de retirar a maçã, tente retirar o espaço vazio. Verás que não é possível. Temos este exemplo como a prova do juízo puro do espaço.

Ainda no campo da imaginação, nós podemos comer a maçã e retirar ela do percurso do tempo — ela não mais existirá com o passar do tempo. Agora, eu jamais conseguirei eliminar o tempo da própria maçã — sempre pensarei nela como algo decorrente do tempo. Isso ocorre, pois, só conhecemos algo — ainda que de forma tácita — relacionando-o entre o futuro e o presente. Só podemos conhecer os objetos ordenando-o espacialmente; só percebemos este objeto de forma temporal¹.

Conclusão

É com os juízos a priori que as representações são passíveis de serem pensadas e estes pensamentos seriam vazios, se não houvessem os conteúdos do mundo externo.

O exemplo que dei da maçã pode, também, ser usado para validar o a priori da ação proposital. Ou seja, ainda no exemplo de um indivíduo indo comprar sorvete, se removêssemos o conteúdo empírico, ficaria apenas o conceito de ação proposital: mas jamais será possível remover a ação proposital deste fenômeno empírico.

Minha graduação é em Ciências Econômicas e os escritos que fiz até agora, servem para sustentar minhas premissas teóricas. No campo da Ciência Econômica, parece-me cada vez mais inegável que ela é uma Ciência apriorística, dividida da seguinte forma: A Ciência Econômica é um método científico que estuda o evento da Economia. A Ciência Econômica e seu método são corolários a priori da capacidade de agir propositalmente num convívio social — não há elementos do mundo empírico nela. O evento da Economia, é indissociável de juízos a priori, mas possui elementos empíricos — onde os juízos a priori explicarão tal evento, mas é a empiria que tratará deste assunto.

[1] KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Editora Vozes Limitada, 2017.

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