Incentivar consumo e investimento para melhorar a economia? Isso é utopia!
Você já imaginou o que aconteceria se apostasse R$ 100 que um determinado preço iria subir e mais R$ 100 que este mesmo preço iria cair e que a diferença percentual seria somado ou subtraído de sua conta? Bom, no final você ainda manteria os R$ 200. Se um preço subisse 5%, a aposta em que você que determinava uma alta no preço te renderia R$ 05. Porém a aposta que você terminava a queda te deu um prejuízo de R$ 05. Isto por conta das estratégias serem antagônicas. O problema do consumo e investimento, que são antagônicos, é que o resultado não é “neutro”. E é justamente o que vamos tratar agora.
O que é o consumo?
O consumo é a utilização de um determinado bem. No ato de uma troca, você oferta um bem em detrimento de outro, onde este bem que você receberá será para a sua utilização final — caso você deseje destinar este bem ao consumo. Ele não mais estará disponível, caso seja consumido em totalidade. Portanto, consumir é tornar bem não mais disponível.
Percebemos, nesta dedução, que o consumo é, também, uma não-poupança, já que a poupança é justamente tornar um bem disponível para quaisquer que seja o fim deste bem. Portanto, há um trade-off entre poupança e consumo — um antagonismo, se preferir. Eu trouxe a poupança, pois, ela, de acordo com a lei de identidade, tem identidade com investimento. Não há como haver investimento sustentável sem poupança. A poupança servirá como um consumo futuro, indicando portanto, a preferência temporal do indivíduo. Este consumo futuro se dará pela especulação do indivíduo sobre este bem poupado em relação ao seu valor no futuro — deve-se ter em mente que investimento é também especulativo, já que o futuro é incerto. Concluímos que consumo e poupança são antagônicos e, também, concluímos que poupança tem identidade com investimento.
O que é investimento?
Bom, podemos definir investimento como o ato de aplicar um fim ao bem poupado com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva. Não há como aplicar um fim ao bem consumido com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva, pois este não mais está disponível.
Apesar de bem resumido, estas são as premissas que mostram o antagonismo entre investimento e consumo. Agora, vamos as derivações destas premissas.
Incentivar investimento e poupança
Quando comenta-se “incentivar”, nós estamos presumindo que um agente, neste caso do governo, irá, através de benefício fiscal ou monetário, dar determinadas vantagens a outro agente — empresa ou consumidores. Usei o termo vantagem justamente pois, em uma economia atual, ainda que haja intervenção, uma arbitrariedade, no sentido de beneficiar direcionada a um agente, ou alguns agentes, fará com que este seja menos penalizado em comparação aos demais — mesmo que este fim o prejudique em um futuro.
Portanto, se o governo dá incentivos ao consumo e o consumidor utiliza este a fim de consumir mais, caso sua preferência temporal seja alta — voltada ao presente — , ele não estará, por definição, poupando — por conclusão, não haverá recursos para serem investidos. Ora, se não há recursos que sustentam os incentivos aos investimento, como o governo conseguiu incentivar as empresas? A única forma será através do crédito barato e sem lastro em poupança — o que gerará diversos problemas no futuro.
Enquanto o consumo é voltado ao presente, o investimento é voltado ao futuro. O descompasso dos incentivos simultâneos gerará dois resultados:
a) o agente consumidor utilizará do crédito barato para consumir coisas que antes não era possível, comprometendo sua renda atual e aumentando sua restrição orçamentária em um nível superior ao crédito tomado — isso ocorre por conta das taxas de juros. Logo, o consumidor se privará do consumo futuro, que é o preço pago pelo crédito pego pelos incentivos e;
b) o investidor tomará o crédito, que não analisará como um recurso artificial, para seus projetos que estão no futuro, gerando emprego, produção e etc. O maior problema é que ele está produzindo para o consumidor atual achando que ele terá renda para consumir no futuro — todas informações indicam isso.
Conclusão
Estes dois resultados demonstram o descompasso entre as preferências temporais do agente consumidor real e do agente consumidor que será levado em consideração nas análises dos empresários.
O descompasso gerará, então, produções que não terão suas vendas realizadas, gerando prejuízos, uma população com uma alta restrição orçamentária — que, com o consumo reduzido ou nulo, impedirá a criação de novos mercados — e uma reorganização na estrutura de produção.
REFERÊNCIAS
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HAZLITT, Henry. Economia numa única lição. J. Olympio, 1986.
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